Histórias de Alexandre

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80 ANOS DE UMA OBRA-PRIMA
“No sertão do Nordeste vivia antigamente um homem cheio de conversas, meio caçador e meio vaqueiro, alto, magro, já velho, chamado Alexandre. Tinha um olho torto e falava cuspindo a gente, espumando como um sapo-cururu, mas isto não impedia que os moradores da redondeza, até pessoas de consideração, fossem ouvir as histórias fanhosas que ele contava. […] o olho certo espiava as pessoas, mas o olho torto fi cava longe, parado, procurando outras pessoas para escutar as histórias […]. A princípio esse olho torto lhe causava muito desgosto e não gostava que falassem nele. Mas com o tempo se acostumou e descobriu que enxergava melhor por ele que pelo outro, que era direito.” Graciliano Ramos

“Muito divertidas e, como sempre neste autor, admiravelmente bem escritas, características de seu estilo que tende para o castiço e o tradicional, as aventuras de Histórias de Alexandre vão absorvendo não só velhos autores portugueses como também a linguagem impregnada do arcaico que se preserva no sertão.” Walnice Nogueira Galvão

“[…] Alexandre é decerto um dos grandes espécimes de contadores de causos. Ele não é propriamente um mentiroso; antes aumenta, fantasia – inventa verdades. Consciente de sua atual condição precária, as histórias de Alexandre oferecem à aridez do presente a densidade do fascínio, transcendendo as adversidades materiais por meio da imaginação. Suas aventuras fantásticas trazem sempre janelas que permitem, em meio à fi cção, vislumbrar sinais da realidade social.” Yuri Martins-Fontes

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80 ANOS DE UMA OBRA-PRIMA

Graciliano Ramos é um dos personagens maiores da literatura brasileira. Com seu estilo refinado e severo – crítico e autocrítico –, destacou-se como romancista, cronista e contista, tornando-se um dos protagonistas do realismo crítico que inaugurou a geração modernista de 1930. Sua obras entraram em domínio público justamente neste ano tão simbólico para um de seus mais belos livros: o pouco falado e menos estudado, mas genial, Histórias de Alexandre, que agora em 2024 completa 80 anos de sua primeira edição.

Novela sertaneja cheia de fantasia, humor, entrelinhas e criatividade – com pitadas de crítica social –, as maravilhosas histórias de Alexandre e Cesária foram dedicadas pelo autor ao público juvenil. Entretanto, como observará o nosso atento leitor, elas nada ficam a dever ao público maduro.

Deliciem-se – crianças, jovens, adultos – com essa narrativa leve e bem-humorada em que o mestre Graça nos oferece um de seus mais interessantes personagens: o cativante herói sertanejo, com sua memória dos bons tempos idos, com seus exageros repletos de realidade que nos lançam luz sobre a história do país. Com a amizade, o companheirismo, a atenção fiel de sua roda de ouvintes, a afilhada das Dores, o desconfiado cego Firmino, seu Libório cantador de emboladas e o sábio curandeiro mestre Gaudêncio, para quem as palavras do anfitrião são “um evangelho”.

Com esta publicação comemorativa, organizada pelos pesquisadores e ensaistas Yuri Martins-Fontes e Edilson Dias de Moura, os selos PRÁXIS LITERÁRIA (em sua estreia) e ANITA GARIBALDI (que completa 45 anos) inauguram, em parceria editorial, a coleção Literatura a Contrapelo – tendo o gosto de inscrever na história do livro brasileiro essa nova edição rigorosamente elaborada. Uma edição crítica, cuidadosa e corrigida, feita de modo artesanal – com o vagar que apreciava Graciliano –, cujo texto-base foi revisto e conferido diretamente com os manuscritos do autor (pertencentes ao IEB-USP), além de cotejado com aquela pioneira edição de 1944, mais precisamente, com o exemplar revisado a lápis pelo próprio Graciliano e dedicado à sua esposa Heloísa: “minha Cesária”.

O livro é ricamente ilustrado com desenhos de Marcelo Guimarães Lima, artista que, inspirado nos traços de cordel e nas histórias em quadrinhos, nos remete ao ambiente do sertão e seus tipos humanos.

“No sertão do Nordeste vivia antigamente um homem cheio de conversas, meio caçador e meio vaqueiro, alto, magro, já velho, chamado Alexandre. Tinha um olho torto e falava cuspindo a gente, espumando como um sapo-cururu, mas isto não impedia que os moradores da redondeza, até pessoas de consideração, fossem ouvir as histórias fanhosas que ele contava. […] o olho certo espiava as pessoas, mas o olho torto ficava longe, parado, procurando outras pessoas para escutar as histórias […]. A princípio esse olho torto lhe causava muito desgosto e não gostava que falassem nele. Mas com o tempo se acostumou e descobriu que enxergava melhor por ele que pelo outro, que era direito.” Graciliano Ramos

“Ainda que as Histórias de Alexandre tenham sido escritas para um público jovem, elas não devem ser subestimadas ou reduzidas a mero folclore regionalista, pois fixam também o fenômeno histórico da vida política e cultural brasileira colonial que sobreviveu no Império e, pelo boca a boca ou nas entrelinhas da nossa literatura, alcançou o período republicano.” Edilson Dias de Moura e Yuri Martins-Fontes

 

Peso 270 g
Dimensões 23 × 16 × 1 cm

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  1. Assessoria de Comunicação

    Obra histórica!

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